“É preciso pensar em
reduzir a força do capital financeiro e também garantir igualdade de fato nas
disputas”
No mês de outubro passado, dois temas de grande
repercussão nos meios de comunicação foram as eleições e o Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem).
E o que esses dois temas têm em comum? É simples, o primeiro se tratava da
disputa político-partidária que decidiu como será o nosso governo nos próximos
anos.
O segundo tema se trada da disputa entre candidatos para conseguir uma vaga em
uma universidade.
Em resumo, os dois assuntos deveriam ser disputados de forma igualitária. Todos
nós sabemos das desigualdades que existem na educação do nosso país, mas e nas
eleições será que a disputa é igualitária? Neste artigo irei agora comparar o
processo eleitoral com um vestibular.
Antes de começar, devemos lembrar algumas "regras e fatores da nossa
política atual". No Brasil existem hoje 33 partidos regulares, regidos por
seus estatutos e para se chegar à disputa eleitoral é necessário passar pelo crivo partidário.
Contudo, esse crivo tem suas regras que não são necessariamente as mais
democráticas possíveis.
A disputa eleitoral e feita através de coligações cuja construção muitas vezes
não está ligada à ideologia, e sim a quantidade de tempo de TV que cada partido
possui. Mas de onde vem o tempo?
Cada partido tem seu tempo de TV e fundo partidário de acordo com a quantidade
de deputados federais que a sigla possui.
A democracia nos partidos do Brasil é questionável e o projeto ideológico da
maioria dos partidos já foi deixado de lado faz tempo.
Essa critica foi apresentada de forma clara nas manifestações de junho do ano
passado onde entre as principais pautas estava a Reforma Política.
Vamos entender um pouco mais das desigualdades no processo eleitoral
comparando-o com o vestibular:
Imagine você fazendo uma prova em que tem 1h para concluí-la, e seu concorrente
tem 7 horas. Pois essa é a realidade da distribuição do tempo de TV dentro de
grande parte das coligações.
Normalmente, um ou outro candidato “escolhido” ganha a maior parte da “fatia
democrática” do tempo de TV, e com isso sai na frente de todos os seus
concorrentes.
Basta lembrar das eleições, que com certeza o leitor lembrará de alguns
candidatos que apareciam mais na TV do que propaganda de carro.
Além da diferença de tempo, terá que resolver todas as contas de matemática
usando uma caneta e papel, enquanto seu concorrente tem computadores,
calculadoras e ainda uma bela equipe de professores para acompanhar cada
cálculo.
Hoje, as regras de financiamento de campanha e o uso da maquina pública fazem
com que se tenha um desnivelamento gigantesco entre as estruturas dos
candidatos.
Essas diferenças ocorrem em quase todos os partidos e coligações, e alguns me
dizem ser “normal” da democracia Brasileira. Mas me pergunto: realmente o
processo assim é de fato democrático?
Acredito que o Brasil precisa de uma reforma política de verdade, que mecha
desde as estruturas partidárias até o processo de escolha dos candidatos.
É preciso pensar em reduzir a força do capital financeiro e também garantir
igualdade de fato nas disputas eleitorais.
Agora, o complicado é que essa reforma política, para ocorrer precisa ser
votada pelos próprios políticos que em geral foram eleitos devido às regalias
que obtém na disputa. Isso significa que teríamos que ver o congresso nacional
e as lideranças partidárias cortando da própria carne.
Será que isso um dia irá acontecer?
Para mudar o Brasil de verdade é preciso que a reforma política aconteça.
Enquanto a política brasileira não mudar, continuaremos a viver em um país com
sérios problemas sejam eles sociais, econômicos ou estruturais, pois, os vícios
do processo eleitoral são apenas a ponta de um gigantesco iceberg que pode afundar
esse gigante país chamado Brasil!
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