quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Uma tragédia para o Brasil

Está sobrando dinheiro no Brasil, essa é a certeza que temos ao vermos o perdão de dívidas bilionárias concedido pelo congresso nacional e pela presidência da república. Esse pensamento de orçamento farto, também fica claro quando vemos R$ 1,716 bilhão destinado para um fundo eleitoral, o tal Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), que vai custear as eleições de 2018.
     Mas essa não é a realidade da ciência e tecnologia Brasileira. Após ter o orçamento contingenciado no ano de 2017, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), tem agora na Lei Orçamentária de 2018 (LOA 2018) – sancionada no início de janeiro pelo presidente Michel Temer – um orçamento geral previsto de R$12,7 bilhões, 19% a menos que o valor sancionado na LOA 2017. É isso mesmo, o que já era pouco ficou ainda menor.
          Mas onde é usado o dinheiro da ciência e tecnologia? Os programas de mestrado e doutorado, os grupos de pesquisa nas universidades, os institutos de pesquisa, todos necessitam de recursos para desenvolver suas atividades. Nas últimas décadas o Brasil tem avançado cientificamente em várias áreas, a agricultura brasileira é um exemplo disso. Então, quando falamos em cortar orçamento de pesquisa, estamos também reduzindo a capacidade do Brasil em competir com outros locais do mundo, onde o ciência e tecnologia são levadas a sério.
       Para se ter uma noção da gravidade do fato, a redução do orçamento gerou uma mobilização internacional. Em uma carta assinada por 23 ganhadores do prêmio Nobel, os cientistas afirmaram que o corte danificará o Brasil por muitos anos, com o desmantelamento de grupos de pesquisa internacionalmente reconhecidos e uma fuga de cérebros que afetará, em especial, os melhores jovens cientistas. Mas o que isso influência na sua vida?
        O custo da ciência e tecnologia está embutido em tudo, remédios, eletrônicos, construção civil e até na comida. Se o Brasil não produz ciência, ele paga para importar técnicas, patentes e produtos. Ou pior, não consegue se quer desenvolver algumas áreas, visto que em alguns casos, as técnicas para serem desenvolvidas com maior efetividade precisam considerar uma série de aspectos regionais.
 A falta de investimento em ciência e tecnologia possui outro efeito negativo fortíssimo, conforme relatado na carta assinada pelos ganhadores de prêmios Nobel, devido à falta de apoio, ocorre a fuga dos pesquisadores para outros locais no mundo onde é possível fazer ciência e onde o pesquisador é valorizado. É triste, mas temos dinheiro sobrando para algumas coisas no Brasil e faltando para outras áreas tão vitais para o desenvolvimento de nossa nação.

            Um dos fatos que mais me preocupa, é que esse tema mal foi debatido na grande imprensa, e tão pouco repercutiu nas mídias sociais.  Uma verdadeira tragédia para o Brasil e para os Brasileiros, que está sepultada no silencio de nossa nação.  

Um corte que muito afeta a Amazônia Legal

Para início de conversa, não estarei aqui neste artigo abordando sobre o desmatamento, o corte – que digo – é outro, mas também afeta o futuro da nossa região diretamente. Este artigo fala um pouco sobre os efeitos da redução do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) nas universidade e centros de pesquisas situados na Amazônia Legal.
          Entende-se por Amazônia Legal o território composto por 9 estados sendo eles: Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, que juntos representam 59% do território Brasileiro. Nestes estados há ocorrência da vegetação amazônica, mas para além da vegetação os estados possuem também problemas econômicos, políticos e sociais similares em vários aspectos.
A dificuldade enfrentada na região da Amazônia Legal vai muito além da falta de logística para exportar a produção da região. Os centros de pesquisas também possuem seus problemas entre eles, a dificuldade de conseguir se tornar atrativo para pesquisadores renomados, devido à escassez de recursos das agências de fomento e falta de estrutura para desenvolvimento de pesquisa. Mesmo com essas dificuldades, nas últimas décadas ocorreu um crescimento surpreendente do número de programas de pós-graduação com cursos de mestrado e doutorado. Estou falando dos programas de pós-graduação, pois neles que boa parte da pesquisa brasileira é desenvolvida e apresentada através de teses e dissertações.
Contudo, mesmo com esse crescimento, os programas de pós-graduação, em geral, ainda estão com uma estrutura muito menor que a existente em universidades no Sul e Sudeste e parte do Nordeste. Esses números ficam claros quando analisamos o relatório Research in Brazil divulgado recentemente pela Clarivate Analytics. O documento trouxe a público o resultado do desempenho em desenvolvimento de pesquisa das principais universidades Brasileiras no período entre 2011 e 2016, e adivinha só, entre as 20 melhores não está nenhuma universidade situada na Amazônia Legal. Na classificação por Estado, todos os 9 estados da região estão situados entre as 14 piores posições, sendo as 6 últimas compostas só por estados da Amazônia Legal.

          A pesquisa faz parte do tripé da universidade, e possui relação direta com ensino e com a extensão universitária. Ou seja, a pesquisa possibilita formar profissionais melhores e mais qualificados e auxilia a buscar soluções para os problemas que a população vive no dia-a-dia. O Corte no orçamento do MCTIC certamente reduz ainda mais os já escassos recursos existentes nas instituições de pesquisa, e o efeito dessa medida do governo será sentido com maior intensidade nos estados da Amazônia Legal. Precisamos defender nossas instituições de pesquisa, pois um país com ciência e educação precária, com certeza está fadado a um destino trágico.