domingo, 31 de julho de 2016

“Profecias” sobre o fim do mundo e os polos magnéticos da Terra

Na última semana circulou pela internet um boato que o mundo acabaria no dia 29 de Julho devido à inversão do polo magnético da Terra. Como vocês podem ver a data já passou e o mundo não acabou, mas essa é uma oportunidade para falarmos um pouco mais deste fenômeno geológico. Sim a inversão do polo magnético pode acontecer, mas não sei quando isso irá ocorrer de fato. Digo mais, o polo magnético já se inverteu milhares de vezes ao longo da história geológica. E como os geólogos sabem disso?

            Nosso planeta é formado por 12 placas tectônicas principais, estas placas se movimentam lentamente. Quando elas colidem umas com as outras dão origem a imensas cadeias de montanhas como os Andes e os Himalaias esses limites de placas são chamados de convergentes ou destrutivos. Quando estas placas deslizam uma lateralmente em relação à outra temos um tipo de limite de placa chamado de transformante ou conservativo. Já quando estas placas estão se afastando umas das outras, no meio do oceano ocorre processos vulcânicos que possibilitam que estas placas cresçam permitindo a abertura do oceano, este limite de placa é conhecido como limite divergente ou construtivo. O continente Africano e a América do Sul, por exemplo, se afastam ano a ano um da outro e essa separação se iniciou a mais 120 milhões de anos. Mas por que estou dizendo isso?
            Estas rochas que são formadas com a expansão do assoalho oceânico possuem minerais magnéticos que quando se cristalizam se orientam conforme o polo magnético da Terra. Desta forma, ao se analisar as rochas que formam o fundo dos oceanos, os geólogos notaram que a inversão do campo magnético já ocorreu na Terra muitas vezes e por isso, podemos dizer com certeza que essa inversão irá ocorrer novamente.
              Bom à vida existe na Terra a mais de 3,5 Bilhões de anos e nenhuma destas inversões do polo magnético causou o apocalipse. O homem nunca presenciou a inversão do polo magnético, sabemos apenas que os polos estão hoje enfraquecendo e que uma hora irão se inverter. Mas com certeza essa inversão não causará o fim do nosso planeta. Então avisem os coleguinhas, precisamos achar um novo motivo para o fim do mundo, talvez seja mais legal voltar a pensar no apocalipse zumbi, na queda de um meteorito gigante ou quem sabe em uma invasão alienígena! Isso se nós humanos, não tratarmos de destruir nosso próprio planeta sozinho. 


sexta-feira, 29 de julho de 2016

O Geoturismo e as diferenças entre Geoparques e área protegida.

Para se compreender a diferença entre Geoparques e área protegida é preciso uma breve apresentação de alguns conceitos como o de Geoturismo, esta vertente do turismo de natureza destaca o valor dos objetos e dos processos geológicos que garantem aos turistas uma cultura científica, em especial a compreensão do relevo, das rochas, dos fósseis e de outros elementos da geodiversidade, para além da mera apreciação estética e de outros valores culturais e naturais.
Morro dos Três Portões, Assentamento de Jangada Roncador 

Esta modalidade de turismo está estritamente ligada ao desenvolvimento local, ou seja, as comunidades situadas na região. Por outro lado o geoturismo tem como premissa a conservação dos geossítios e também o desenvolvimento da cultura científica em todos os níveis educacionais tanto para os turistas como para os moradores locais.
No geoturismo podem-se apreciar elementos como a paisagens e as geoformas, recursos geológicos, fósseis, rochas, minerais e solos. Para que isso ocorra é necessário utilizar uma linguagem adequada e acessível ao público, enfatizar a relação da geodiversidade com a biodiversidade e sociedade.
Em geral é praticado em territórios onde se destaca o património geológico, essencialmente aquele que revela valor estético ou forte ligação com a sociedade, com a história e com a biodiversidade.
O desenvolvimento do geoturismo esta relacionada à inventariação do programa de geoturismo, a classificação e motorização, além de também relacionar estes fatores com outros valores ecológicos, etnográficos, arqueológicos e históricos. Associados a uma valorização da geodiversidade e do patrimônio através de publicações, websites, mesas e outros meios de interpretação, desenvolvimento de percursos e formação de guias especializados.
Os projetos de geoturismo podem estar relacionados à visitação de áreas protegidas, mas podem ser desenvolvidos em outras áreas com patrimônio geológico que constitui a base para a atração de turistas. Em projetos de parques temáticos, por exemplo, mas podem ser também em uma área qualquer.
O geoturismo em geral está associado à geoparques, estes por sua vez são constituídos por três pilares fundamentais: Geoconservação, Educação e Geoturismo. Os geoparques são territórios com fronteiras definidas, para qual existe um plano de desenvolvimento dirigido para a população local, sustentado na conservação, promoção, valorização e uso desse patrimônio, bem como de outros valores naturais, culturais e recreativos.

Uma área protegida pode estar relacionada a um geoparque, contudo, os dois conceitos possuem naturezas diferentes, visto que conforme citado acima os geoparque possuem como um dos seus pilares fundamentais o envolvimento com a população local, associando os valores da geoconservação com o dia a dia das pessoas e com os produtos turísticos regionais. Enquanto as áreas de proteção possuem uma relação maior com a natureza biótica, ou seja, com a preservação da biodiversidade, os geoparques possuem um enfoque para a natureza abiótica, mais especificamente com a preservação da geodiversidade. Cabe ressaltar que existe uma intima ligação entre a biodiversidade de uma região e a geodiversidade deste mesmo local. Toda via, a forma de se gerir a um geoparque e uma área protegida é distinta e a sua própria função é diferente, mas em muitos casos áreas protegidas fazem parte também de geoparques.  A proposta do Geoparque de Chapada dos Guimarães pode trazer um grande diferencial para o turismo da região, fomentado o turismo rural e o geoturismo. 

terça-feira, 19 de julho de 2016

Geoparque de Chapada dos Guimarães, quais os impactos desta proposta?

Desde o inicio do mês de Abril, está em discussão a criação do Geoparque de Chapada dos Guimarães. Mas o que é um Geoparque?
Um geoparque é um projeto de desenvolvimento local e sua construção está diretamente relacionada com os habitantes que residem no território em questão. Os impactos dos geoparques estão relacionados aos seus três pilares básicos que são: Geoconservação, Educação e Geoturismo.
        Durante o processo de criação do Geoparque é realizado o levantamento de diversos serviços e atrativos existentes na região. Essas informações são depois amplamente divulgadas juntamente com os atrativos existentes, estas informações então são relacionadas com o patrimônio geológico ou com outros valores existentes na região.


       A ampliação do número de turistas trás um impacto direto na economia local em diversos segmentos como hotelaria, setor de alimentação, artesãos, setor de serviços entre outros. Com isso, o território passa a ter como motor de desenvolvimento atividades relacionadas com o geoturismo. Os geoparques são excelentes oportunidades para empresas locais. Tal fluxo de crescimento representa uma maior geração de oportunidades e também uma melhoria da qualidade de vida da população que ali reside.
Os benéficos educacionais são diversos, pois a ampliação do conhecimento sobre o nosso planeta pode significar uma mudança profunda na forma de ver o mundo e o meio em que vivemos. Os geoparques são oportunidades para escolas e universidades trabalharem os temas relacionados ao meio físico com seus estudantes.
Fragmentos de fósseis de dinossauros encontrados em Chapada dos Guimarães. 

Para a comunidade local a compreensão sobre a geologia ali existente pode significar também uma ampliação do valor que os próprios moradores dão ao seu território, visto que ao observar e tomar conhecimento sobre o quanto é especial àquele local em que eles vivem, deste dia em diante o próprio olhar sob sua localidade de cada um dos residentes será diferente.
Outro aspecto que os geoparques permitem e o desenvolvimento de atividades rentáveis em áreas rurais através do turismo. Em alguns países como o Brasil isso pode ter uma função muito importante, visto que nas ultimas décadas o êxodo rural é um dos grandes problemas sociais existentes. Sendo assim, os geoparques são uma incrível oportunidade de se integrar os aspectos culturais e o dia a dia das pessoas que vivem no campo valorizando essas informações, gerando renda, oportunidades e incentivando elas não migrarem para grandes centros.
Geoparques por tanto, são um modelo existente em vários lugares do mundo que associa preservação com desenvolvimento social e ganhos educacionais, certamente é um modelo que podemos replicar com sucesso também no Município de Chapada dos Guimarães.


terça-feira, 12 de julho de 2016

O que são Geoparques

Antes de tudo é preciso explicar para o leitor qual o conceito de Geoparque e quais os impactos desta iniciativa. Um geoparque é um projeto de desenvolvimento local e sua construção está diretamente relacionada com os habitantes que residem no território em questão. Os impactos dos geoparques estão relacionados aos seus três pilares básicos que são: Geoconservação, Educação e Geoturismo. Portanto, o modelo de Geoparques são muito diferentes dos modelos tradicionais de unidades de conservação.

Vista do Fecho do Morro.

Os geoparques estão ligados à preservação da geodiversidade, ou seja, com a natureza abiótica do nosso planeta, mais especificamente aos elementos geológicos de uma determinada área tais como as rochas, minerais e fósseis, e com a interação destes elementos geológicos com os sistemas clima tendo como resultado elementos geomorfológicos (formas de relevo, topografia e processos físicos), pedológicos (formação de solo) e hidrológicos.
Os elementos da geodiversidade podem possuir diversos tipos de valores sendo eles: 1) Intrínseco: considera-se que a geodiversidade por si só é importante; 2) Econômico: está relacionado à utilização da geodiversidade para o bem estar do homem; 3) Cientifico: relacionado à raridade ou representatividade de um determinado elemento; 4) Educativo: locais onde se podem explicar informações e processos geológicos com facilidade; 5) Cultural: relacionado com elementos geológicos que integram a cultura local; 6) Estético: em geral é associado com elementos hidrológicos e geomorfológicos; 7) Funcional: tem relação com a utilização da geodiversidade para o homem a exemplo de uma hidroelétrica.
Nos casos que a geodiversidade possui um valor científico, seja ele in-situ (neste caso chama-se Geossítios) ou ex-situ (exemplo de coleções museológicas), dar-se o nome de patrimônio geológico. Quando a geodiversidade está relacionada a outros valores que não o científico, dar-se o nome de elementos de geodiversidade (ex-situ) ou os sítios de geodiversidade (in-situ). A seguir será destacado o que são estes elementos in-situ:
Os geossítios são ocorrências de um ou mais elementos da geodiversidade que afloram devido a processos naturais ou em virtude da intervenção do homem, delimitado geograficamente e com um excepcional valor científico. Estes sítios podem ser: paleontológicos, mineralógicos, petrológicos, estratigráficos, tectônicos ou geomofológicos. Os geossítios são considerados um tipo de recurso natural não renovável que podem ser utilizados de forma sustentável pela sociedade seja para auxiliar no processo educativo, desenvolvimento de pesquisa, ou uso para o turístico. Para se utilizar os sítios geológicos é preciso uma gestão adequada que possibilite o seu uso sustentável.
Já os Sítios de geodiversidade são ocorrência de um ou mais elementos da geodiversidade, bem delimitado geograficamente e com um excepcional valor (pode ser de diversos tipos, exceto o científico).

O geoparque por tanto, é um caminho para o desenvolvimento do Geoturismo e para criação de alternativas de geração de renda associadas com a preservação das riquezas que existem no nosso planeta. Neste aspecto, o Geoparque de Chapada dos Guimarães certamente poderá cumprir um importante papel. 

quarta-feira, 6 de julho de 2016

GEOPARQUE DE CHAPADA DOS GUIMARÃES

“Uma oportunidade de viajar no tempo e na história”

Localizado no centro da América do Sul o Município de Chapada dos Guimarães possui um território com uma geologia rica conhecida desde o século XIX. Mas, além da geologia, a história, a arqueologia, a biodiversidade local e a riqueza cultural chamam atenção de quem por ali passa.
        A colonização do município iniciou logo com a chegada dos primeiros bandeirantes a região durante o século XVIII.  Durante esta época o território que hoje é o município cumpria um importante papel de abastecer com alimentos as minas de Ouro de Cuiabá. Desta época ficaram preservadas a Igreja Barroca de Sant’Ana e também diversa ruínas dos engenhos de cana de açúcar que existiam nas então sesmarias concedidas pela Coroa Portuguesa.
Além deste importante patrimônio histórico, nesta região existem diversos sítios pré-históricos com pinturas rupestres que remontam aos primeiros homens que aqui chegaram. Um dos sítios de maior destaque é a Lapa do Frei Canuto, com mais de 50 metros de pinturas rupestre.
A construção de um Geoparque no município de Chapada dos Guimarães com certeza é uma alternativa para o desenvolvimento local, permitindo gerar renda e preservar o meio ambiente. Vamos falar um pouco agora sobre a geologia de Chapada dos Guimarães.
O patrimônio geológico de Chapada dos Guimarães e região permite realizar uma viagem desde o Neoproterozóico até o Terciário, observando diversos tipos rochas metamórficas, sedimentares e ígneas. As unidades geológicas mais antigas da região estão relacionadas ao Ciclo Transbrasiliano que deu origem ao Supercontinente Gondwana, estas rochas são conhecidas na literatura como Grupo Cuiabá, constituído por filitos, metadiamictitos, metarenitos, quartzitos e mármores que foram depositados em um ambiente marinho e posteriormente dobrados e metamorfisados dando origem a uma imensa cadeia de montanhas. Associado a esse processo ocorreu a cerca de 503 milhões de anos a intrusão do Granito de São Vicente.
Em Chapada estão preservadas as rochas depositadas durante duas incursões marinhas (entrada do mar sobre o continente) que ocorreram durante o Paleozoico, à primeira delas tem como registro as rochas do Grupo Rio Ivaí de idade Neo-Ordoviciana, é constituído pelas formações Alto Garças e Vila Maria. A diferença de resistência das rochas associada à erosão através do fenômeno de erosão por piping possibilitou formar um conjunto de cavernas, dentre elas a Carvena Aroe Jari, maior caverna de arenito do Brasil.
A segunda incursão marinha ocorreu durante o siluriado-devoniano, onde foram depositados os arenitos da Formação Furnas e os folhelhos fossiliferros da Formação Ponta Grossa. Nesta última unidade são encontrados fósseis de trilobitas, tentaculites, braquiópodes (Conchinhas) entre vários outros animais marinhos.
Durante o Mesozóico um imenso deserto se sobrepôs as formações geológicas existentes nessa região. Esse deserto deu origem a Formação Botucatu, Constituída por arenitos médios bem selecionados com estratificações cruzadas tangenciais de grande porte, hoje estas rochas constituem um importante aquífero.
No período Cretáceo ainda associado aos últimos esforços de quebra do Supercontinente Gondwana, um sistema de Grábens e Horst se formou na região depositando uma sequência Vulcano-sedimentar que se iniciou com o magmatismo basáltico da Formação Paredão Grande seguido pela deposição em um sistema de leques aluviais das formações Quilombinho, Cachoeira do Bom Jardim e Cambambe. Nestas unidades já foram descritos diversos fósseis de Dinossauros entre eles o  Pycnonemosaurus Nevesi  identificado a partir dos fósseis coletados na região.

Réplica do Pycnonemosaurus Nevesi exposta no Museu de Pré-História Casa Dom Aquino

A última unidade geológica é a Formação Cachoeirinha constituída de conglomerados diamantíferos. Essa unidade está associada à história de diversas comunidades locais que se formaram devido à atividade garimpeira.
A erosão das unidades citadas da origem a diversos geomorfossítios que possuem uma beleza cênica sem igual. Destacando-se diversos mirantes, rios e cachoeiras. No município existe ainda um parque nacional criado para preservar a biodiversidade do cerrado Brasileiro, neste bioma existe uma grande diversidade de fauna e flora.
Relacionando todos os valores citados torna-se possível a criação de um geoparque que envolva a população local, preserve o meio ambiente e o patrimônio geológico e auxilie na construção de um modelo de desenvolvimento sustentável para o município. Após debate realizado em Audiência Pública requisita pelo deputado Wilson Santos, o primeiro passo para a criação do Geoparque foi dado no dia 17 de junho com a criação de um comitê para instrumentalizar as ações necessárias para desenvolvimento desta iniciativa.