terça-feira, 11 de setembro de 2012

Assistência estudantil, o ver, o viver e um pouco da minha historia de vida.


Na vida, muitas pessoas ficam presas em ver apenas conceitos, preceitos e baseiam todo seu mundo em cima das analises de modelos pressupostos. O problema é que modelos como o próprio nome diz são coisas estimadas a partir de certa linha teórica, entre tanto, esta linha pode não coincidir com a realidade. Quando isso acontece as diferenças entre os conceitos baseados no ver são muito diferentes dos conceitos de quem vive aquela realidade.
        Quando se trata de politicas de inclusão social e formação isso se agrava mais ainda, pois nunca na vida uma pessoa que teve sua origem na classe media vai conseguir imaginar com os mínimos detalhes toda a realidade de uma pessoa com origem nas classes menos favorecidas.
     Todos os conceitos de sociedade e de função social são afetados diretamente pela conjuntura familiar, contexto socioeconômico, cultural e padrões de analise comportamental da sociedade no entorno do individuo.
Digo que cada um tem sua escolha, entretanto nem todos tem as mesmas dificuldades e oportunidades, sendo assim tentar utilizar os mesmos padrões de analise para uma pessoa que se desenvolveu sem estrutura familiar e sem as condições padrões de subsistência  e outra que teve todas as condições adequadas na infância e adolescência é no mínimo  não querer enxergar os desafios de nossa sociedade.
Levando mais a fundo este assunto, podemos afirmar que esta é uma competição totalmente desigual, é que para que possa mudar é preciso que haja politicas e ações por parte das instituições governamentais visando a igualdade de condições. Isso se faz através de criação de politicas de assistência estudantil.
Hoje com 22 anos, e curso o mestrado em geociência. Me considero vitorioso de ter conseguido chegar até aqui, luto com todas minhas forças para ampliar as politicas de assistência estudantil. Isso por que sei da importância delas para conseguir mudar um pouco das condições do nosso Brasil.
As leis nem sempre propiciam e colaboram para a mudança social. Quer dizer, podem ser lindas no papel, mas não tão bem executáveis na pratica se não forem interligadas com politicas de assistência. Pela legislação só é possível trabalhar a partir dos 16 anos, na minha vida comecei a trabalhar aos 7 ou 8 anos vendo frutas, mais tarde picolé, enchendo saquinhos de terra para plantio de mudas, catando bosta de vaca pra vender como adubo, carpindo quintal, roçando, catando latinha e ferro velho, entregando jornal, vendendo pão, vendendo pastel na feira entre muitas outras atividades.
Minha primeira bicicleta comprei aos 8 anos de idade depois de encher 600 saquinhos de terra. Dai por diante comecei a utiliza-la para vender frutas (limão, abacate, maracujá entre outras) como a escola era longe de casa precisava da bicicleta para poder ir estudar. Transporte público (escolar) só começou quando estava na 2 serie. Consegui estudar graças a minha mãe que sempre me ajudou em casa.
Me lembro hoje a alegria que foi quando implementado ainda no governo de FHC o bolsa escola. Para mim aquilo significava muito já que meu pai estava no assentamento do MST de jangada roncador e minha mãe criava sozinha 4 filhos pequenos com meio salario mínimo que vinha de ajuda familiar. Neste cenário trabalhar, ou seja, vender frutas na feira é a melhor coisa que conseguia fazer para assim poder comprar algumas coisas para casa e para mim. A bolsa escola foi a primeira politica de assistência estudantil que fez parte da minha vida, não serviu para comprar material escolar, mas serviu para colocar um pouco de comida em casa.
Entre os 10 e 13 anos passei a vender pão na feira, juntamente com as frutas e quando podia pegava um bico (roçava ou carpia algum quintal) para ganhar uma grana a mais, ajudava também a cuidar da casa dos vizinhos. Me lembro hoje de o conselho tutelar de chapada me tirar de meu primeiro emprego (caseiro na casa de um vinho próximo).  Minha entrada na politica foi nessa época, como morava a 4 km da cidade. Aproveitava a ida para escola para levar os pães que tinha para vender, certo dia um colega me rouba um pão. Indignado com a situação procuro a direção da escola para tentar resolver a situação, a diretora ao invés de entender a situação tenta proibir que eu leve os pães para aula. Para garantir meu direito de vender pães e lutar contra as arbitrariedade que as vezes ocorrem nas escolas começo então a montar o grêmio estudantil da escola Ana Tereza Albernaz, isso aos 11 anos de idade.
As 13 anos inicio também na pesquisa com o projeto de iniciação cientifica júnior – PIBIC Junior cujo tema era “Iniciando na Arqueologia”. Aos 14 anos passo no CEFET-MT e venho morar sozinho em Cuiabá, como a situação de minha família não tinha mudado, continuava sem nem um tipo de apoio financeiro, por isso estudava e trabalhava.
Nos 2 primeiros anos que morei em Cuiabá meu patrimônio se resumia a 1 colchonete, um travesseiro, um ventilador e  3 pratos e duas panelas. Meu salario era o suficiente para às vezes pagar as contas e sobravam uns 20 reais para diversão (na maioria das vezes, jogava vídeo game e tomava uns vinhos vagabundos e umas pingas) como o salario era pouco (240) tinha que fazer uns bicos por fora para terminar de pagar as contas. A coisa melhora um pouco quando recebo minha segunda PIBIC Junior com o projeto “A poluição do rio Cuiabá através dos tempos” e quando no 3 anos do ensino médio consigo a bolsa de alimentação da escola (500 gramas por dia). Nessa época era magro que nem palito. Morei de favor em 4 lugares, e aluguei mais uns 4 no decorrer destes tempo. Ao todo morei no Coxipo da ponte, boa esperança, Cristo Rei, Don Aquino, Morada do Ouro, Verdão e copema.
Por fim na UFMT, consigo entrar nas politicas de assistência estudantil. Na época eram cerca de 54 vagas nas casas de estudantes masculinas e femininas, a bolsa permanência era 180 reais e a alimentação 50 reais. Devido a diferença de valores preferi continuar com meu estagio que acabava de ser reajustado para 360 reais, mesmo assim minha vida melhora um pouco devido ao fato de não precisar mais pagar aluguel. Com o tempo passa a ficar difícil estudar e manter o estagio devido ao fato da faculdade ser integral e o estagio era muito puxado. Junto a outros moradores passamos a formar um movimento forte pelo reajuste das bolsas e por fim conseguimos reajustar para 300 (permanência) e 85 (alimentação) neste momento cria-se a possibilidade de eu deixar o estagio e passar a me dedicar a faculdade um pouco mais.
As lutas pela ampliação continuaram e continuam até hoje, conseguimos aumentar o numero e valor das bolsas e hoje a casa do estudante abriga mais de 100 pessoas com a perspectiva de atingir 160 ainda este ano. Minha irmã hoje moradora desfruta de alguns destes benefícios conquistados que garantem a possibilidade de se fazer um curso superior. As bolsas ainda precisam aumentar mais em numero e valor. Ainda a muito o que se fazer, hoje o projeto que eu mais dedico o tempo é o de construção da casa do estudante estadual que quando construída possibilitara a 196 estudantes ter a mesma oportunidade que tive.
Não adianta se discutir mudança social somente no teórico, precisamos de fato ampliar as politicas de inclusão. Assim como eu no passado fiz, tenho certeza que muitas crianças hoje trabalham para conseguir ajudar a em casa. Temos uma evasão de quase 40% dos jovens durante o ensino médio, isso reflete um cenário de descaso com a juventude e de falta de mecanismos para garantir as possiblidades básicas de subsistência destes jovens e de sua família.

Se muitos afirmam que somente a educação muda um país.

Eu afirmo que ninguém estuda de barriga vazia e sem ter onde morar! Por isso precisamos de mais assistência estudantil. 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Estudantes organizam ato pela educação


            Nesta quinta feira dia 6 de setembro, estudantes secundaristas, universitários e pós-graduandos estiveram nas ruas de Cuiabá cobrando do poder público melhorias na educação. 
            Tendo inicio na praça da república por volta das 10 horas da manha e seguiu até a câmara dos vereadores a onde foi realizado um ato de construção simbólico da educação. Os estudantes empilharam uma serie de caixas de papelão no qual estavam escritas as pautas de reivindicação.
            O movimento foi organizado por diversos grêmios estudantis de escolas públicas e particulares, pelo Diretório Central dos Estudantes – DCE/UFMT, pela Associação Mato-grossense dos Estudantes – AME, pela União Brasileira dos estudantes Secundaristas – UBES e pela Associação de Pós-Graduandos – APG/UFMT.
            Para finalizar o ato estudantes entregaram aos vereadores de Cuiabá a constituição federal, para que estes lembrem do seu papel perante a sociedade e dos direitos dos cidadão, tais como saúde, educação, segurança, transporte, lazer entre muitos outros. As principais pautas do movimento são:


# 10% do PIB para educação, 
# Construção da Casa do Estudante Estadual,
# Isenção do ICMS das instituições públicas de ensino, 
# Passe livre sem restrição de horário para todos os estudantes (secundaristas, graduação e pós-graduação),
# Passe livre para os estudantes de Várzea Grande,
# Valorização dos servidores da educação, 
# Que o governo atenda as pautas de reivindicações dos servidores da educação federal,
# Educação Integral envolvendo atividades culturais, esportivas, lúdicas e formacionais contemplando os aspectos científico e tecnológico durante o processo de educação.
# Ampliação do número de creches,
# Melhoria de laboratórios e estruturas esportivas e culturais das escolas,
# Garantia da acessibilidade nas vias públicas e em todas as instituições de ensino,
# Ampliação do numero e do acervo das bibliotecas públicas,
# Construção de pontos de ônibus que ofereçam abrigo do sol e chuva,
# Investimento de 2 bilhões em assistência estudantil, e ampliação das políticas de apoio aos estudantes de origem popular,