Durante o ano de 2013 o povo brasileiro foi às ruas para lutar contra
a corrupção, exigir melhorias na educação e investimentos em outras áreas
básicas e essenciais a nossa sociedade, como o transporte público. Contudo, os
protestos também levantaram um debate amplo sobre o direito de ir e vir
garantido em nossa constituição. Mas o que realmente é ter o direito de ir e
vir garantido? Será que esse direito é garantido no momento que cada cidadão
tiver o seu carro, ou com sistemas de transportes de alta qualidade e baixo
custo?
Para iniciarmos o debate sobre o
assunto, imagine agora que cada cidadão queira usar um carro para se locomover.
Imagine qual o tamanho das vias que seriam necessárias para que a cidade
consiga manter o fluxo da locomoção urbana. Imagine quanto o governo teria de
gastar - dos nossos impostos - para adaptar as cidades a essa realidade.
Imagine o gasto que cada cidadão teria com combustível e com impostos do
veículo. Imagine a poluição gerada por cada moto, carro ou caminhonete a mais
nas ruas. Imagine o aumento no número das mortes causadas por acidentes no
trânsito.
Imaginou?
Bom agora imagine que em vez de utilizar um carro próprio, esse mesmo
cidadão pudesse utilizar um sistema de transporte coletivo rápido, eficiente e
a um baixo custo. Que em vez de estar estressado dirigindo ou pilotando no
trânsito ele pudesse ir para casa lendo um livro dentro de um metrô, em um
assento confortável dentro de um vagão climatizado. Sim a solução para a
mobilidade urbana está no transporte público.
Mas como poderíamos garantir esse direito de ir e vir? Em muitas
cidades no mundo existe um modelo de transporte em que o cidadão paga um valor
mensal e pode utilizar o transporte durante o mês no dia e horário que quiser,
quantas vezes quiser. Este modelo existe em quase toda Europa e no Brasil foi
implementado recentemente em São Paulo, aonde ainda passa por adaptações.
A proposta do Bilhete Único Mensal é um grande avanço para garantir o
direito de ir e vir principalmente da população mais carente. E agora
explicarei um pouco mais como este modelo funciona no Brasil e no mundo.
Usarei o exemplo de Lisboa, cidade que tive a oportunidade de conhecer
e morar por um curto período de tempo. Lá a estrutura de transporte é formada
por diversos modais como VLT, BRT, metro, bonde e ônibus. Acreditem mesmo a
cidade tendo uma média de temperatura entorno de 20° C, todos os ônibus que vi
me tem ar-condicionado. Esse é apenas um detalhe. A cidade possui ciclovias e,
tanto o cliclista como o pedestre são respeitados. Basta pisar em uma faixa e o
carro para.
Os modais de transporte são todos integrados e o cidadão pode optar
por comprar passagens individuais, passagens diárias, ou então pagar
mensalmente 35 euros e ter acesso a qualquer tipo de transporte público a
qualquer horário em qualquer dia quantas vezes quiser. Ou seja, se locomover
para a balada, lazer, estudo ou trabalho durante todo o mês por um valor que
corresponde a 7,22% do salário mínimo de Portugal.
E é notável que em Lisboa os congestionamentos sejam bem menores que
nas cidades brasileiras. Na verdade quase inexistente isso por que mesmo a
classe média, ou os ricos optam por usar o transporte público devido à
qualidade e ao custo.
Em São Paulo o sistema de Bilhete único apresenta alternativa de
bilhetes semanais, a um valor fixo de R$ 38,00 para um único meio de transporte
(ônibus ou metrô e trem) e, ou, R$ 60 por semana podendo utilizar dos modais de
transporte. O Valor do Bilhete Único mensal é de R$ 140 para quem optar por
usar somente ônibus ou somente para Metrô e trens. Para poder utilizar todos os
modais de transporte à taxa fixa mensal de R$ 230. Este valor, se comparado ao
salario mínimo ainda está muito desproporcional em relação ao custo de
transporte em outras cidades do mundo, a exemplo de Lisboa, mas com certeza a
criação desta politica significou um grande avanço para a população
paulistana.
Será que um dia teremos no Brasil realmente governos que se preocupem
com a mobilidade urbana, qualidade de vida e com o direito de ir e vir para
toda a população? O que o leitor acha da ideia de usar um transporte público de
qualidade a um custo de 7,22% do salario mínimo? Já pensou isso aqui em Cuiabá?
Pense no tempo que cada um de nós gasta no trânsito e em como ele poderia estar
sendo melhor utilizado se não fosse a falta de planejamento e gestão urbana dos
nossos governantes. Será que as prefeituras e câmaras dos vereadores teriam a
decência de copiar esse modelo, implementado esta ideia aqui em Cuiabá e Várzea
Grande? Será?