segunda-feira, 21 de abril de 2014

O bilhete único mensal e o direito de ir e vir

          Durante o ano de 2013 o povo brasileiro foi às ruas para lutar contra a corrupção, exigir melhorias na educação e investimentos em outras áreas básicas e essenciais a nossa sociedade, como o transporte público. Contudo, os protestos também levantaram um debate amplo sobre o direito de ir e vir garantido em nossa constituição. Mas o que realmente é ter o direito de ir e vir garantido? Será que esse direito é garantido no momento que cada cidadão tiver o seu carro, ou com sistemas de transportes de alta qualidade e baixo custo?

          Para iniciarmos o debate sobre o assunto, imagine agora que cada cidadão queira usar um carro para se locomover. Imagine qual o tamanho das vias que seriam necessárias para que a cidade consiga manter o fluxo da locomoção urbana. Imagine quanto o governo teria de gastar - dos nossos impostos - para adaptar as cidades a essa realidade. Imagine o gasto que cada cidadão teria com combustível e com impostos do veículo. Imagine a poluição gerada por cada moto, carro ou caminhonete a mais nas ruas. Imagine o aumento no número das mortes causadas por acidentes no trânsito.

Imaginou? 

          Bom agora imagine que em vez de utilizar um carro próprio, esse mesmo cidadão pudesse utilizar um sistema de transporte coletivo rápido, eficiente e a um baixo custo. Que em vez de estar estressado dirigindo ou pilotando no trânsito ele pudesse ir para casa lendo um livro dentro de um metrô, em um assento confortável dentro de um vagão climatizado. Sim a solução para a mobilidade urbana está no transporte público.


          Mas como poderíamos garantir esse direito de ir e vir? Em muitas cidades no mundo existe um modelo de transporte em que o cidadão paga um valor mensal e pode utilizar o transporte durante o mês no dia e horário que quiser, quantas vezes quiser. Este modelo existe em quase toda Europa e no Brasil foi implementado recentemente em São Paulo, aonde ainda passa por adaptações.  

          A proposta do Bilhete Único Mensal é um grande avanço para garantir o direito de ir e vir principalmente da população mais carente. E agora explicarei um pouco mais como este modelo funciona no Brasil e no mundo.

          Usarei o exemplo de Lisboa, cidade que tive a oportunidade de conhecer e morar por um curto período de tempo. Lá a estrutura de transporte é formada por diversos modais como VLT, BRT, metro, bonde e ônibus. Acreditem mesmo a cidade tendo uma média de temperatura entorno de 20° C, todos os ônibus que vi me tem ar-condicionado. Esse é apenas um detalhe. A cidade possui ciclovias e, tanto o cliclista como o pedestre são respeitados. Basta pisar em uma faixa e o carro para.

          Os modais de transporte são todos integrados e o cidadão pode optar por comprar passagens individuais, passagens diárias, ou então pagar mensalmente 35 euros e ter acesso a qualquer tipo de transporte público a qualquer horário em qualquer dia quantas vezes quiser. Ou seja, se locomover para a balada, lazer, estudo ou trabalho durante todo o mês por um valor que corresponde a 7,22% do salário mínimo de Portugal.

          E é notável que em Lisboa os congestionamentos sejam bem menores que nas cidades brasileiras. Na verdade quase inexistente isso por que mesmo a classe média, ou os ricos optam por usar o transporte público devido à qualidade e ao custo.

          Em São Paulo o sistema de Bilhete único apresenta alternativa de bilhetes semanais, a um valor fixo de R$ 38,00 para um único meio de transporte (ônibus ou metrô e trem) e, ou, R$ 60 por semana podendo utilizar dos modais de transporte. O Valor do Bilhete Único mensal é de R$ 140 para quem optar por usar somente ônibus ou somente para Metrô e trens. Para poder utilizar todos os modais de transporte à taxa fixa mensal de R$ 230. Este valor, se comparado ao salario mínimo ainda está muito desproporcional em relação ao custo de transporte em outras cidades do mundo, a exemplo de Lisboa, mas com certeza a criação desta politica significou um grande avanço para a população paulistana.    


          Será que um dia teremos no Brasil realmente governos que se preocupem com a mobilidade urbana, qualidade de vida e com o direito de ir e vir para toda a população? O que o leitor acha da ideia de usar um transporte público de qualidade a um custo de 7,22% do salario mínimo? Já pensou isso aqui em Cuiabá? Pense no tempo que cada um de nós gasta no trânsito e em como ele poderia estar sendo melhor utilizado se não fosse a falta de planejamento e gestão urbana dos nossos governantes. Será que as prefeituras e câmaras dos vereadores teriam a decência de copiar esse modelo, implementado esta ideia aqui em Cuiabá e Várzea Grande? Será?