segunda-feira, 13 de julho de 2015

O desenvolvimento científico e a crise econômica

O Brasil passa por uma crise econômica que vem se agravando no último ano. E quais os efeitos desta crise no desenvolvimento científico do Brasil e em especial do estado de Mato Grosso?
Para iniciar o debate sobre esse assunto é preciso primeiro ressaltar os números referentes aos programas de pós-graduação no nosso país. São nestes programas que boa parte da pesquisa do Brasil é produzida, sendo assim, precisamos analisar a fundo o cenário da pós-graduação e sua relação com o desenvolvimento regional das diversas unidades federativas.
    A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) avalia de três em três anos os programas de pós-graduação no Brasil, as notas variam de 3 a 7, sendo a 3 a nota mínima para o programa ficar aberto. E os números são claros, existem hoje assimetrias regionais que precisam ser corrigidas. Os programas de pós-graduação de excelência estão concentrados no eixo sul, sudeste e mais o distrito federal. A Amazônia Legal que envolve os estados do norte, o Maranhão e o Mato Grosso é a região onde a pós-graduação mais precisa ser fomentada.
Hoje o Centro Oeste possui 4 programas de mestrado ou doutorado com nota 7, sendo todos da UNB, o Nordeste 2, o Sul possui 40 e o Sudeste 244. Ou seja, na Amazônia legal não temos hoje nenhum programa com nota máxima. A situação não muda muito em relação aos programas nota 6, 5 e 4: Nota 6: Centro-Oeste 24 (UNB 20 e UFG 4), Nordeste 46, Norte 6 (UFPA 4 e INPA 2), Sudeste 335 e o sul 124; e Nota 5: Centro-Oeste 50 (UNB 22, UCB 6, UniCEUB 2, UFG 10, PUC-GO 2, UFMS 2 e UFGD 2, UFMT 4), Nordeste 165, Norte 18 (INPA 4, UEA 2, UFAM 2 e UFPA 10), Sudeste 677 e o sul 266.
Nota-se que proporcionalmente a grande maioria dos programas de pós-graduação que estão localizados na região da Amazônia legal possuem nota 3 ou 4 (Nota 4: Centro-Oeste 215, Nordeste 450, Norte 119, Sudeste 998 e o sul 460; e nota 3: Centro-Oeste 153, Nordeste 394, Norte 124, Sudeste 565 e o sul 333).
Esses números levantam uma grande preocupação: será que o Brasil possibilita condições para o desenvolvimento da ciência em todas as regiões? A resposta é clara! É preciso hoje se debater o desenvolvimento científico tecnológico em especial da Amazônia Legal, fortalecendo os centros de ciências e grupos de pesquisa. Para isso é preciso políticas de combate às assimetrias, é preciso recursos para estruturar e possibilitar que os pesquisadores consigam desenvolver a pesquisa com todas as condições necessárias.
A crise econômica tem influenciado fortemente neste contexto, os consecutivos cortes de gastos na educação e na ciência e tecnologia tem afetado fortemente as universidades de todo país, mais com certeza tem tido um efeito maior sobre as universidades situadas fora do eixo sul-sudeste, e em especial sobre as universidades e grupos de pesquisas situados nos estados da Amazônia Legal.
Na ultima quinta-feira dia 9/7, o Ministério da Educação informou aos reitores que houve equívoco na nota emitida pela Capes. O governo alegou que não ocorreu um corte de 75% e sim a liberação de apenas 25% do total do orçamento Programa de Apoio à Pós-Graduação — PROAP das IFES. E lógico que a medida não foi nada bem recebida e gerou muita indignação dentre mestrandos, doutorandos e professores. A CAPES então voltou atrás e decidiu cortar apenas 10% do valor.
Destaco ainda que a CAPES há vários anos não libera novas cotas de bolsas de pesquisa para os programas. Como ficam então os novos programas de pós-graduação que estão sendo criados? Como desenvolver pesquisa sem ter recursos?
É preciso que o governo federal discuta e estabeleça uma política clara de apoio ao desenvolvimento da ciência nestes estados. O governo federal precisa criar uma política arrojada de fixação de doutores para que novos núcleos de pesquisa possam se estabelecer ou se fortalecerem, outra ação necessária é a liberação de novas cotas de bolsas para os programas da Amazônia legal, se isso não for feito, teremos sérias dificuldades para conseguir de fato assegurar o desenvolvimento de ciência nesta região.
O governo precisa criar editais específicos para os estados onde a pós-graduação é emergente, precisamos de equidade no desenvolvimento do Brasil, é preciso melhorar as condições para professores orientadores e para os pós-graduandos.

O investimento em ciência e tecnologia é o caminho para superar as dificuldades existentes no nosso país. Não podemos deixar a crise econômica de o nosso país reduzir ainda mais o investimento em criação de novas tecnologias e formação de pessoal. Em um mundo cada vez mais moderno, investir em ciência é construir um futuro melhor.